“Donnie Darko” é um daqueles filmes que, desde seu lançamento em 2001, deixou o público intrigado e discutindo seu final. Dirigido por Richard Kelly o longa mistura elementos de ficção científica, psicologia e fantasia criando uma narrativa que desafia uma interpretação meramente linear. Para entender o desfecho do filme é necessário mergulhar nas camadas de simbolismo, conceitos como viagem no tempo e as implicações filosóficas trazidas por ele.

Uma das chaves para o mistério parece estar no livro “Filosofia da Viagem no Tempo” da personagem Roberta Sparrow. Nele aparecem conceitos como o do universo tangente que duraria apenas algumas semana, depois de descandeado por um evento, mas que depois disso pode colapsar em um buraco negro destruindo tudo. O aparecimento de um objeto de metal estranho sem explicação lógica é o sinal da criação desse universo tangente. No caso o artefato é a turbina de avião.

Depois de dominar o método de viagem no tempo no final do filme Donnie consegue voltar para o momento em que o motor de avião deveria ter caído em seu quarto matando-o. Esse ato paradoxal é o clímax de toda a trama e se conecta ao conceito central do filme: a existência de um universo tangente, uma realidade paralela que foi criada quando o motor do avião caiu no lugar errado devido a uma anomalia no espaço-tempo.

Ao longo do filme, Donnie é guiado por Frank, uma figura misteriosa vestida como um coelho, que o incentiva a fazer uma série de atos aparentemente irracionais, mas que são cruciais para o desenrolar dos eventos. Frank revela-se na verdade como uma manifestação de Donnie de um futuro alternativo. Um ser que só existe porque a linha do tempo foi corrompida. Donnie entende que para restaurar a ordem e evitar o colapso do universo tangente precisa permitir que o motor do avião o mate impedindo assim a criação do universo alternativo e os eventos que levaram à morte de várias pessoas, incluindo Gretchen, sua namorada.

No momento final Donnie ri antes de ser atingido pelo motor, um riso que pode ser interpretado como uma aceitação do seu destino e do absurdo da existência. Ele compreende que sua morte vai evitar o sofrimento daqueles ao seu redor, retornando o universo ao seu curso normal. As cenas seguintes mostram como a vida dos personagens principais continua, mas sem as tragédias que ocorreriam no universo tangente. Gretchen, por exemplo, passa pela casa de Donnie sem nunca tê-lo conhecido, indicando que os eventos perturbadores nunca aconteceram.

O final de “Donnie Darko” é, portanto, uma mistura de sacrifício pessoal e redenção, onde Donnie se torna uma espécie de herói trágico. Ele escolhe conscientemente a morte para salvar os outros abraçando o caos do universo e encontrando um propósito na sua própria destruição.

Esse desfecho deixa os espectadores com uma série de perguntas abertas: O que é real? Até que ponto temos controle sobre nosso destino? “Donnie Darko” não oferece respostas fáceis, mas convida a uma reflexão profunda sobre a natureza do tempo da morte e da própria vida. É essa ambiguidade e a rica tapeçaria de ideias que tornam o filme um clássico cult e mantêm seu final como um dos mais discutidos e interpretados do cinema.